Vou iniciar este depoimento ressaltando a importância do aspecto familiar na minha recuperação dentro de DASA. Já sou um membro de DASA há algumas 24 horas e neste tempo tive muitas crises: sexuais, profissionais, amorosas, sociais, e naturalmente familiares.
Acho que quase todos os meus problemas vieram de relações conturbadas com meus familiares. Meu pai foi um alcoólatra e isso detonou minha relação com ele. Tive muitos problemas na minha vida em decorrência deste relacionamento conturbado. Sofria muito com as bebedeiras dele, temia muito suas crises, e sempre tinha a tendência de defender minha mãe de tudo isso também.
Durante estes anos guardei esses ressentimentos. Tinha horas que sentia tanta raiva que poderia matá-lo. Mas, lá no fundo sentia sua falta. O tempo também se encarregou de me transformar em uma pessoa rancorosa e defensiva. Isso durou muito tempo, muitas feridas foram abertas e reabertas. Foram muitas brigas, algumas sérias, outras nem tanto, mas sempre cada um com o intuito de machucar o outro. Muitas acusações de ambos os lados e nunca nos entendíamos.
Então chegou a oportunidade de eu entrar nos grupos anônimos levado por uma crise depressiva. Lá entendi algumas coisas de meu pai, mas ainda não conseguia compreender muita coisa e logicamente não conseguia perdoá-lo. Nosso relacionamento continuava difícil, porém com alguma melhora. Até que cheguei em DASA. No DASA iniciei uma série de conscientizações, algumas dolorosas, que me ajudaram imensamente na compreensão do mundo que meu pai vivia. Comecei a vê-lo com outros olhos, com os olhos da compreensão. Entendi, talvez até um pouco tarde, que ele estava somente se defendendo, que não era mal, nem que queria magoar todos por puro prazer, mas sim por medo, igualzinho a mim. Então comecei a ver que quanto mais destilava meu veneno contra ele mais ele se defendia. Era como jogar uma bolinha numa parede, quanto mais forte jogamos, mais forte ela volta.
Graças á DEUS e ao meu padrinho, consegui compreender isso a tempo. Iniciei um trabalho de compreensão de todas as atitudes loucas dele, e comecei a entendê-lo muitíssimo melhor. Foi uma graça para mim e para minha recuperação esse entendimento, pois só assim pude sinceramente tratá-lo com mais delicadeza e sinceridade, o que não significava eximi-lo de sua responsabilidade..
Graças ao Programa, a DEUS e aos meus companheiros pude enfrentar meus reais problemas, e os enfrentando tive a percepção dos problemas que meu pai teve sozinho. Meu pai morreu há três meses. Talvez nãotenha feito tudo que era preciso, mas fiz alguma coisa, e isso é que me manteve bem durante sua doença e morte. Tive um imenso carinho por ele durante seus últimos dias, acho que isso também o deixou muito feliz.
As saudades são grandes, mas não posso fazer mais nada. O que posso fazer agora é amar os que ficaram por aqui – isso é o que importa – e chorar quando as lágrimas vierem. Uma coisa tenho certeza: se não fossem os grupos de anônimos e principalmente o DASA, e alguns companheiros, eu não teria tido estes momentos de carinho e amor que tive. Agora terei que trabalhar também em outros aspectos, mas isso que me foi oferecido já valeu a pena.
De um filho grato