Olá companheiros, sou um DASA em recuperação. Cheguei a entrar em contato com as Irmandade Anônimas, após um período de forte depressão, que quase me levou a loucura. Antes disso, já havia procurado ajuda em vários segmentos da sociedade, a procura de solução para o terrível sentimento de culpa, nojo, raiva que sentia de mim mesmo, devido a conscientização dos meu as atos passados.
Desde a minha infância, sempre fui uma pessoa muito medrosa e extremamente complexada. Sexualmente, saí torto desde a infância. Acredito que a falta de um modelo masculino a seguir (devido a ausência do meu pai, cujo alcoolismo roubava toda a sua atenção da sua família) e a superproteção e autoritarismo inconsciente por parte de minha mãe, possam ter ajudado neste aspecto da minha doença.
Por volta dos meus 9 ou 10 anos de idade descobri a masturbação, um mecanismo gerado para liberar a carga dos meus medos e ansiedades. Isto passou a ser um dos meus grandes vícios de comportamento, que perdurou até a minha chegada em DASA. Comecei logo cedo, a desviar dinheiro do bolso do meu pai (enquanto dormia alcoolizado) para poder comprar as minhas revistas pornográficas. Tratava de deixá-las bem escondidas, assim como faz um alcoólatra com suas garrafas pelos cantos da casa. Isso gerava o medo que alguém pudesse encontrá-las (o que sempre acontecia e sempre através da minha mãe). Sua reação era muito enérgica. Isso gerava um conflito: como poderia estar errado algo que para todos os garotos era normal?
Ao ingressar na fase ginasial, é que comecei a ter as minhas primeiras experiências de ordem sexual. Sempre foi muito difícil para mim; apesar da extrema vontade, um medo sobre natural com relação ao fracasso sempre me acompanhava. Tive várias experiências dentro da área da homossexualidade, que acabavam me gerando medo, vergonha e auto-repugnância. Sempre quis ser um cara normal, capaz de sair “com todas as mulheres possíveis e imagináveis” mas, devido ao meu tremendo complexo de inferioridade aliado ao medo do fracasso e o medo da descoberta das minhas práticas homossexuais, nunca consegui o esperado.
Para piorar um pouco mais as coisas, descobri o jogo por volta dos meus 1 5 anos de idade. Outra sensacional fuga para a minha realidade familiar e interior; mais um lugar para dividir os “bons trocados” da caixa registradora do armazém do meu pai. O incrível é que eu não conseguia controlar estes meus atos, apesar de sentir que eu estava agindo errado e sentindo logo em seguida um profundo remorso. Graças ao Poder Superior, esta fase com o jogo, não durou por muito tempo. Foi logo substituído por um relacionamento doentio que durou cerca de 10 anos.
Mesmo me relacionando com uma garota, eu precisava me auto-afirmar, e continuava mantendo relações por fora, o que causava muito sofrimento para a minha garota. Minha obsessão sexual tornou-se tão intensa, que cheguei a tentar abusar sexualmente de uma criança. Talvez esse tenha sido o ato que mais me torturou na fase da depressão e do sentimento de culpa.
Chegou a fase do exército, e mais uma vez o medo me acompanhou. Comecei a ter o medo de que as pessoas poderiam vir a ficar sabendo da minha realidade, a qual jurava a mim mesmo que ninguém ficaria sabendo. Achava que carregaria aquilo comigo até o túmulo. Mas a realidade foi bem outra.
Entrei numa profunda depressão, que me levava a pensamentos suicidas constantes. Perdi a capacidade de raciocinar, de me controlar, entrei em parafuso. Procurei ajuda de religiões, profissionais, tudo quanto é tipo de “chá”, que se possa imaginar… pensei que fosse enlouquecer e que não fosse superar as idéias de suicídio. Foi então que conheci o N/A. Ali consegui “vomitar “, todo o meu passado que tanto me afligia. Tomei conhecimento dos 12 Passos de Recuperação e conheci o meu padrinho, que muito me ajudou e a quem sou muito grato.
Sentia que estava salvo, que havia encontrado um lugar onde as pessoas me entenderiam e me ajudariam a me livrar do meu passado e fazer uma escolha sadia de vida. Eu tinha o sincero desejo de me recuperar no que diz respeito ao meu comportamento sexual. Procurei adquirir toda a literatura que me fosse possível. Passei a freqüentar duas reuniões por dia, sem contar as reuniões fechadas com o meu padrinho. Ali expunha com toda a honestidade e sem medo, os fatos que me traziam culpa, medo, remorso, vergonha e outras sintomas torturantes. Admiti que era impotente perante uma escolha sadia de sexualidade, admiti que minha conduta havia se tornado ingovernável. Vim a acreditar que ali eu conseguiria me recuperar. Decidi então entregar o meu sincero desejo, minha vontade de me recuperar aos cuidados do meu Poder Superior, que naquele instante, foi o meu padrinho, alguém que já havia passado pelos mesmos problemas que eu e que havia conseguido se recuperar e viver bem com o seu passado.
Durante quase um mês, escrevi sobre a minha vida minuciosamente e destemidamente; foram momentos angustiantes e dolorosos, mas que eu sabia que eram de vital importância para a minha recuperação. O que eu via, exteriorizava para o meu padrinho. Era reconfortante dividir com alguém e ouvir que ele também havia passado pelas situações que até então, eu imaginava que eram exclusivamente minhas. Lembro-me bem, como dávamos risadas daquilo que por um fio não me levou a cometer uma loucura. Rogava a Deus, (que eu tentava imaginar existir) que me livrasse daqueles padrões de comportamento anteriores e que me desse a condição de ser uma pessoa normal e feliz. Fiz uma relação de todas as pessoas que havia prejudicado emocional, sexual, espiritual e financeiramente.
Procurei a cada uma dessas pessoas e contei-lhes a respeito da minha doença, do que eu estava passando, de como eu havia lhes prejudicado e do porque de estar ali contando tudo aquilo para eles. Graças ao meu Deus, fui muito bem aceito por todos, o que ajudou a ganhar a confiança perdida por muitos deles.
Percebi que o resultado dessa prática, fez com que automaticamente, eu tomasse consciência dos acontecimentos emocionais momentâneos, onde, admitia prontamente os meus erros. Comecei a tentar me relacionar com Deus através da Oração e da meditação, mesmo de forma vacilante. Foi então, que tive o meu despertar espiritual, algo inexplicável, algo muito pessoal, uma experiência que transformou minha vida de forma marcante, me jogando de um extremo ao outro. Uma sensação de paz que nunca havia experimentado antes… percebi que não poderia mudar o passado, mas que através dos passos aplicados de 24 em 24 horas, eu poderia deixar de ser aquela pessoa indesejada por mim. Era só admitir que tinha problemas e sexuais e me abster de alimentá-los por apenas…24 horas.
Os três primeiros meses foram muito difíceis, pensava até que não fosse conseguir. Graças ao Poder Superior, a ajuda dos companheiros da Irmandade paralela (na época não havia o DASA no Brasil), do meu padrinho e da minha boa vontade e mente aberta, estou sóbrio a boas 24 horas de uma série de padrões auto-diagnosticados.
Apesar da ajuda desta Irmandade, sentia muita falta de um tratamento mais direto na área da sexualidade, onde eu pudesse repartir as minhas experiências de recuperação com meus companheiros e ouvir a deles e encontrar pessoas que tivessem o mesmo objetivo que eu. Foi então que através de uma companheira, tomei conhecimento do DASA e do seu programa de recuperação. Esta é uma experiência que futuramente, se Deus me permitir, irei dividir com vocês meus companheiros.
Agradeço do mais fundo da minha alma, a todos aqueles que acreditaram em mim e que me ajudaram a ser, aquele que hoje sou!
Um membro agradecido