Sou uma dependente de amor e sexo e falar isso agora é tranquilo. Mas quando descobri esse grupo de doze passos fiquei meio alarmada… que nome “pesado”! Ao adquirir a literatura e me inteirar do programa, entretanto, tirei de minha cabeça o preconceito e me descobri nessa situação. Já pertencia a outro grupo de doze passos há algumas 24 horas e foi como ir mais a fundo nos problemas que tinha descoberto no meu quarto passo anterior.
Juntas, eu e mais 6 companheiras desse outro grupo, tentamos iniciar um grupo de DASA na nossa cidade, nos reunindo na casa de uma delas, já que era uma cidade pequena e a questão do anonimato era complicada. Estudávamos os passos, líamos A JORNADA, mantivemos contato com uma companheira de SP e foi quase um ano assim. Muitas descobertas, muito choro, e muita esperança também.
Para mim ficava sempre a promessa do segundo passo: “um PS possa nos devolver à sanidade”. Mas precisava participar de uma reunião onde houvesse pessoas com alguma recuperação, pois é mesmo a terapia do espelho que funciona e é muito importante me enxergar no outro.
Mudi-me de cidade no início de 2000 e perdi a oportunidade do convívio com aquelas companheiras, mas sempre com o pensamento em DASA, em conseguir estar em uma reunião. Até que em novembro passadso fui ao encontro nacional em Vinhedo, e isso foi muito forte. Uma companheira lá comentou comigo: é seu primeiro contato com DASA e você nem chorou? Posso não ter chorado por fora, mas quanto chorei “por dentro”!!!
Vi muito de mim em cada depoimento, e o que me marcou mais foi uma reunião sobre abuso emocional.
Pude colocar para fora coisas da minha adolescência que marcaram o início dos meus problemas de relacionamento, penso eu. Deu para relembrar minha falta de aceitação com o relacionamento dos meus pais (uma coisa da minha cabeça, pois meus pais são casados há 41 anos e vivem bem, dentro do “conceito de amor” deles. Eu é que não concordava com a “atitude de submissão” de minha mãe. Isso é uma classificação minha, pois para ela é normal, não incomoda) e perceber que daí nasceu dentro de mim uma anorexia total e uma “fala secreta”: nunca homem nenhum vai “mandar em mim”.
Dessa forma me fechei para os relacionamentos, desviei minha vida toda para os estudos, fui uma aluna exemplar, me formei aos 22 anos, comecei a trabalhar logo a seguir. Cedo consegui minha independência financeira, mas fui dando cabeçadas no que diz respeito ao convívio social, pois saí de uma cidade do interior e fui morar na capital, sendo impossível viver sozinha. Comecei a aprender a fazer amizades, mas isso levou tempo. O primeiro namorado foi aos 28 anos (tenho ainda vergonha de falar isso), mas é minha realidade. E foi um tumulto só.
No fundo eu tenho uma carência muito grande, e transformo todos os namorados naquele “príncipe” que vai me levar para ser feliz para sempre… Entro de cabeça, sufoco, mas ao mesmo tempo tem uma parte de mim que não quer se envolver. E vivo uma relação onde “eu mando”. Sempre atraí homens “problemáticos”, “anoréxicos”, aqueles que precisam de alguém prá “colocá-los para frente”.
Daí para frente tive mais 3 relacionamentos que acho que posso falar que foram namoros (e cíclicos, de 4 em 4 anos) e entre eles alguns “rolos”, daqueles bem enrolados mesmo. Tenho as duas faces da doença: compulsão por sexo (aquela coisa de pele, da atração física falar mais alto e me colocar em situações insanas) e anorexia. Quando termino um relacionamento me fecho totalmente – às vezes por anos – a qualquer aproximação. Só tive consciência disso depois de conhecer DASA.
Os resultados de ter participado desse encontro têm sido muito intensos. Tomei muitas atitudes, como terminar de vez o meu relacionamento atual, rasgar lembranças, fazer minha lista de comportamentos de adicção e pedir ao Poder Superior que me ajude a me abster deles, me propor ao celibato um dia de cada vez por um tempo. Não está sendo fácil, tudo isso mexeu muito comigo. Tenho ainda dificuldades em me perdoar e às vezes me acho a pior pessoa do mundo, me encho de culpa e sofro. Mas tenho recebido muitas respostas na literatura e nos depoimentos dos companheiros pelo computador, pois ainda não tem um grupo onde moro.
Mas continuo de olho na promessa do segundo passo: preciso de sanidade, de conseguir relacionamentos saudáveis em todos os sentidos, não só com um namorado, mas com todas as pessoas com quem convivo.
DASA hoje representa para mim essa esperança. Sei que FUNCIONA, se eu fizer a minha parte.
Anônima – Minas Gerais