Distanciamento

Distanciamento

Olá companheiros, paz e bem a todos!

Gostaria de compartilhar com vocês, tudo o que estou conseguindo detectar em meu interior, durante este período dificílimo da minha recuperação em DASA. Antes de mais nada, gostaria de dizer a vocês que hoje tenho por experiência a conscientização do real significado da expressão “dependente de amor e de sexo”.E sei muito bem o que é esse sentimento horrível que bate na boca do estômago, sobe para o peito e que “cozinha” a minha capacidade de raciocínio, deturpando a realidade dos meus sentimentos. Sei muito bem o que é a obsessão mental e física, que me tira por completo da minha realidade como se fosse uma droga. Por Deus, como desejo me livrar dessa loucura.

Pela primeira vez na minha vida, me encontro só, sem qualquer tipo de envolvimento emocional ou sexual com outra pessoa. Durante toda a minha vida (desde a infância) senti essa ansiedade constante e essa falta de sentido em meu interior, o qual preenchia ou se preferir “anestesiava” através da energia da sedução, ou de uma pratica sexual qualquer. Hoje também sei da importância e do significado do “DISTANCIAMENTO”, ou “RETIRADA”, do qual quero dividir com vocês.

Durante muitos anos da minha vida, vivi um relacionamento extremamente dependente. Através da participação em DASA entrei em contato com esta verdade amarga, a qual tentei negar durante um grande tempo até não conseguir mais e me sentir derrotado, onde acabei por desfazer esse relacionamento. Algumas frases da literatura de DASA entraram com tanta força e verdade em meu interior que não havia mais como viver em paz dentro deste relacionamento. Percebi que durante muito tempo, vivi alimentando promessas falsas e paralelamente, um comportamento sexual compulsivo. Vi que não estava “vivendo e deixando o outro viver”, que não estava permitindo nem a mim e nem à minha companheira ter a liberdade para entrar em contato com as nossas limitações, dores, carências e outros sentimentos significativos que tanto contribuíram para a nossa dependência. Por mais que eu tentasse ignorar, não conseguia ficar sem ouvir aquela “voz interior” que me sussurrava que eu tinha que me separar para poder crescer e desenvolver uma nova maneira de vida. Depois de muita depressão, ao me sentir derrotado, joguei a toalha e me separei.

Durante muito tempo, me senti responsável pelo comportamento ou estado emocional da minha ex-companheira, o que colaborou em muito para que eu não falasse dos reais sentimentos que borbulhavam dentro de mim. Foi com muita dor que compreendi que “NÃO SOU RESPONSÁVEL PELO COMPORTAMENTO OU REAÇÕES EMOCIONAIS DE NINGUÉM A NÃO SER DE MIM MESMO”. Foi só a partir daí que compreendi que cada um nasce sozinho, morre sozinho e que é responsável pela sua vida. Podemos compartilhar do crescimento, mas não crescer pelo outro.

As primeiras semanas forasm duras, até que consegui superar bem (acredito que devido ao fato de ter-me libertado daquela dor terrível e da depressão emocional e espiritual em que me encontrava). Com o passar do tempo, comecei a entrar em contato com a realidade que se apresentava: eu estava só! Comecei a viajar para fugir da minha realidade, mas isso não funcionou pois aonde eu ia sempre havia um momento em que eu ficava só comigo e caía na minha realidade. Experimentei uma série de compulsões, chegando a recair em alguns dos meus padrões dependentes, o que me levou a uma profunda crise de raiva contra mim mesmo, a qual só consegui superar após uma conversa franca e aberta com dois dos meus companheiros. Percebi também, que as minhas recaídas se deram após ter me encontrado com a minha ex-companheira. Eu recaía em primeiro lugar emocionalmente, e depois, sexualmente. Foi só aí que eu consegui entender a atitude de um membro antigo de DASA ao tomar a medida de se distanciar dos seus “objetos de obsessão”. Resolvi seguir os mesmos passos, procurando as pessoas com quem mantinha relacionamentos doentios e deixando claro que não queria e não poderia mais manter contato com elas. Foi um momento muito difícil da minha vida, mas sentia que se não fizesse isso, não conseguiria nunca me recuperar. Adotei a postura de não querer saber nada a respeito da condição emocional dessas pessoas, não porque tivesse raiva ou mágoa, mas sim pelo fato de que qualquer tipo de informação poderia disparar os ” meus botões emocionais doentios” que fatalmente me levariam a um contato a mais.

A partir daí, comecei o meu real processo de recuperação. Entrei então em síndrome de abstinência emocional e afetiva (já havia passado pela síndrome de abstinência sexual). Confesso a vocês que esta abstinência foi e está sendo muito mais dolorida do que a abstinência sexual. Quando se rompe um relacionamento, se rompe também com todo um sistema de vida, toda uma rotina, todo um círculo de amizades condicionadas ao relacionamento e eu não sabia o que fazer com a minha vida. Por vezes me vi enfrentando as horas, para ver se o dia terminava logo, tudo isso em meio a compulsões terríveis de situações emocionais ou sexuais. Passei a comer compulsivamente como uma forma de substituição, mas como já tinha conhecimento de que isso era uma fuga, ficou mais difícil de dar continuidade. Me sentia só, fora da irmandade e só, dentro da irmandade. Não encontrava ninguém que estivesse enfrentando a mesma situação que a minha. Podia ver uma série de relacionamentos doentios e o mesmo processo de negação pelo qual passei. Queria que as pessoas seguissem o mesmo caminho que eu, para não me sentir só e chegava até a sentir raiva ao ouvir frases do tipo: “Sei que estou num relacionamento dependente e que preciso me separar, mas no momento está bem assim e não vou mexer com isso”. Foi aí que acordei que mais uma vez estava entrando nas garras da dependência. Quem tinha que fazer o meu caminho era eu mesmo e que ninguém precisava seguir o meu. Tinha que confiar em Deus e seguir em frente, sem a certeza do que encontraria pela frente.

Outro fato que me chamou a atenção para as verdades contidas nas experiências dos membros mais antigos, era a respeito dos “encontros ocasionais com nossos ex-amantes”. Passei por duas experiências desse tipo, uma com minha ex-companheira e outra com a minha “ex-amante”. Em ambas as situações fiquei totalmente fora do ar, perdendo a respiração, o domínio sobre os meus sentimentos, pensamentos e experimentando uma carga de ansiedade e de adrenalina fora do comum. Essa carga foi tão forte que fiquei numa ressaca emocional por quase dois dias. Isso veio a reforçar a minha necessidade de me distanciar desses relacionamentos, enquanto que o lado mais escuro do meu ser se debatia pela minha recusa em continuar a alimentar os velhos padrões de comportamento.

O que me chamou a atenção nesse período foi a diferença existente entre esses relacionamentos que eu vivia. O meu relacionamento dependente sexual era movido apenas pela compulsão sexual e não trazia complemento algum e nem a perspectiva de futuro. Já o meu relacionamento dependente afetivo foi o que mais momentos de tristeza e dúvidas me trouxe. Sentia falta deste relacionamento e, por vezes, ao me deparar com situações ou lugares de significado, ainda me pego com angústia e tristeza.

Outro aspecto desta fase pela qual estou passando é com relação a questão profissional. Cada dia que passa sinto mais e mais a necessidade de mudar o rumo da minha vida profissional. Hoje estou vivendo uma situação profissional dependente, onde não estou me realizando nem profissionalmente e muito menos financeiramente. No entanto, ainda tenho o medo de assumir uma postura e largar essa minha dependência. É novamente o medo do desconhecido… “Será que vai dar certo? Será que eu vou conseguir?”. No entanto, tenho falado muito sobre isso com os meus companheiros e tenho pedido ao meu Poder Superior que me ilumine e me dê a força e a sabedoria necessárias para crescer.

Tudo isso, companheiros, vem se desenrolando em meio de muita confusão mental e emocional, muita compulsão sexual, muitos sintomas físicos, alguns deslizes (principalmente na masturbação), muita oração, momentos de raiva e outros de aceitação… ou seja, um sobe e desce emocional constante. Em alguns momentos tenho conseguido rir dos pensamentos e sentimentos que ocorrem em meu interior. Em outros, tenho sofrido e travado uma batalha imensa. No entanto, algo em meu interior me diz que estou no caminho certo, e que mais dia ou menos dia, poderei desfrutar das promessas que o Programa tem me passado. Não vejo a hora de tudo isto acabar pois eu mereço ser feliz.

Estou feliz por ver que o DASA está crescendo e que novos grupos estão surgindo em várias regiões do país e que já possui o seu espaço entre tantas Irmandades de 12 Passos. É muito bom poder ouvir as pessoas falando do DASA e ver que esta é uma Irmandade, ou melhor, um empreendimento espiritual cujo engenheiro é o maior de todos: Deus como cada um concebe a Deus!

Desejo a todos os meus companheiros o mesmo que desejo para mim, que são 24 horas de paz, serenidade e sobriedade sexual!

Um anônimo agradecido