Companheiros, Serenidade à todos!
Gostaria de compartilhar com todos os momentos pelos quais tenho atravessado ultimamente. Muitas coisas têm acontecido – algumas boas e outras aparentemente nem tanto. Digo aparentemente, porque tenho constatado depois de certo tempo de programação que aqueles momentos que pareciam ser o “fim do mundo em sofrimento”, com o tempo, se mostraram pontos de apoio para o crescimento de uma nova pessoa.
Há cerca de três meses, num momento de muita dor, rompi com o meu relacionamento, meu noivado. Foi extremamente difícil chegar a esta decisão. Muita coisa passou pela minha cabeça a ponto de eu pensar que estava a prestes a enlouquecer. Este processo de rompimento iniciou-se há quase um ano e meio, quando tive a oportunidade de traduzir uma apostila do DASA, escrita em castelhano (diga-se de passagem, com muitos erros de interpretação e de escrita, mas que muito me ajudaram!). Uma coisa é ler um material e outra muito distinta é traduzi-lo. Parece que o espirito fica muita mais ligado ao texto.
Devido a esse fato a absorção do espírito da apostila foi de imediato muito forte. Percebi que o meu relacionamento, pelo menos da minha parte, era terrivelmente dependente, tanto na área sexual, como na afetiva. Percebi que escondia a minha anorexia emocional, afetiva e sexual, por detrás do meu relacionamento, que me protegia de uma verdadeira intimidade. O impacto emocional que me causou este trabalho foi muito forte. Comecei a ter muita ansiedade, pensamentos suicidas, diarréias, tremores, uma tristeza imensa, um medo terrível de ficar sem a minha companheira, enfim, todos os sintomas que a síndrome de abstinência pode apresentar.
Eu tentava a todo custo amar a minha companheira, respeitá-la, ser fiel, ser presente, ser verdadeiro, franco, mas por mais que eu me esforçasse, lá no meu íntimo, eu sentia que não era algo verdadeiro e espontâneo e que o resultado era sempre o vazio, seguido daquela “voz que sussurrava bem baixinho” a loucura de continuar insistindo naquele relacionamento. Eu procurava evitar falar do assunto, comentar sobre o meu relacionamento, sobre casamento e chegava a evitar as pessoas que me questionavam esse assunto, chegando por vezes ser até hostil com essas pessoas. Eu tentava mentir, só que mentia somente para minha mente, mas não para a minha alma.
Sofria terrivelmente quando as pessoas me perguntavam sobre quando sairia o casamento, ou quando a minha companheira tocava no assunto, ou fazia planos e sonhos para tanto. Eu bem que queria sentir o mesmo e até me esforçava para isso, mas não era verdadeiro! Eu me sentia responsável por ela, pelas suas emoções, pelos seus sonhos, pela sua condição emocional. Hoje vejo que esse tipo de comportamento não passava do meu egocentrismo, como se eu fosse o centro da vida dela, como se ela não pudesse viver sem a minha pessoa. Que loucura! Hoje vejo que, na verdade, eu estava única e exclusivamente preocupado com a minha reputação. Como a verdade dói!
Fiquei durante um ano e pouco tentando salvar o nosso relacionamento dentro de DASA, procurando ser o mais aberto possível com ela. No final do ano, na passagem de ano, eu estava numa síndrome terrível e tentando a todo custo não demonstrar isso para as pessoas. Eu estava com todos os sintomas torturantes do fundo de poço da dependência afetiva. Lembro-me do esforço que foi a passagem de ano com a família dela, sem deixar que eles percebessem o que estava acontecendo no meu interior.
O fato que determinou o meu colapso emocional, foi quando fomos ver um apartamento para comprar. Ela estava toda empolgada pois era a oportunidade do céu… lembro-me bem dos olhos dela, da felicidade e do receio dela acreditando em mais uma das minhas “promessas”. Eu queria, mas não podia. Sabia que não poderia fazer aquilo com ela e comigo mesmo. Tentei lutar com todas as forças contra a minha consciência, mas fui derrotado. Uma força muito maior à minha vontade me vencera. Foi terrível e pensei que não pudesse agüentar.
Comecei a ter sensações horríveis: tremedeiras, diarréias, falta de apetite, desânimo, falta de energia, medo,pânico, idéias de suicídio, pensamentos de que ela fosse se suicidar, medo do que as pessoas iriam me dizer, medo de perder nossos amigos em comum, medo de perdê-la para sempre, medo de ficar só, medo de não ter mais o cheiro dela, o corpo dela, a companhia dela, a pele dela… medo, medo, medo! Uma pressão no peito, muita angústia, uma pressão cerebral, que parecia fazer o meu cérebro derreter, incapacidade de controlar os meus pensamentos, incapacidade total de me concentrar, e tristeza, muita tristeza. No entanto, eu continuava tentando superar bravamente o que dizia o meu interior: “Você tem que romper!” Eu não conseguia aceitar esse fato e me revoltava contra Deus, questionando porque tinha que ser dessa maneira, porque não podíamos continuar juntos e ser felizes. Por que eu não podia ficar livre daquele terrível medo de assumir o nosso relacionamento, de assumir a nossa vida? Não conseguia encontrar respostas.
Procurei achar respostas através de livros, através das pessoas. Ouvi vários tipos de conselhos que me mostravam com clareza o quanto as pessoas estavam doentes e vivendo relacionamentos terrivelmente dependentes, sem querer olhar para a própria realidade. Via que as pessoas que falavam para que nós continuássemos eram justamente aqueles que estavam presas a relacionamentos inadequados, sem partilha emocional, espiritual e, até em alguns casos, sem partilha sexual. Era como se a vida deles me mostrasse a loucura que seria se nos casássemos, e o nosso futuro estava bem ali nos meus olhos. Cheguei a ter crises de choro muito fortes que só consegui superar graças à ajuda de companheiros de DASA que permaneceram ao meu lado.
Os momentos que mais me traziam dor eram após os nossos contatos íntimos, quando ela dormia nos meus braços e eu ficava olhando para ela e sentindo o medo de enfrentar o que estava acontecendo em meu interior. Só eu e Deus sabemos o quanto que isso me trazia de dor. Eu realmente não queria machucá-la, queria protegê-la da dor e sem perceber, estava bloqueando o crescimento dela. Aos poucos isso foi ficando mais claro para mim, graças à leitura do livro “Co-dependência Nunca Mais”. Percebi que o meu comportamento era de resgate e de manipulação, que vivíamos uma co-dependência muito grande e que realmente teríamos que nos separar, se quiséssemos algum dia, livres das garras da dependência, viver relacionamentos verdadeiros. Vi o quanto estávamos vivendo a “negação”, a mesma negação que hoje vejo tão freqüente nas pessoas. Por medo do abandono e da solidão eu estava prolongando um relacionamento dependente. Já não dava mais para fugir da verdade.
Por vezes senti a vontade de que ela me deixasse, pois isso tornaria as coisas muito mais fáceis para mim. No entanto, eu sabia que essa atitude teria que ser minha: eu teria que assumir a responsabilidade pelos meus sentimentos e pelas minhas atitudes. Vi também que eu era responsável somente pelas minhas reações emocionais e que cabia a ela trabalhar com esse fato, e definitivamente eu deveria deixar de fazer o papel do sapo disfarçado de príncipe encantado, à procura de salvar a sua princesa. Esse foi sempre o meu papel: salvá-la das situações, afim de receber a recompensa através da satisfação dos meus instintos.
Num momento de desespero fui à procura de um padre para poder desabafar o que eu estava sentindo. Quando lhe contei o que se passava comigo ele me questionou e me censurou pelo fato de mantermos relações sexuais, e que aquilo estava errado. Saí dali com uma raiva incrível, percebi que eu teria que parar de procurar respostas através dos outros e olhar o que o meu interior me pedia. Era momento de me encarar de frente: só eu e Deus! Pedi muita ajuda ao meu Poder Superior para que me mostrasse a verdade, por mais dura que ela fosse. A resposta veio no dia seguinte. Era um domingo cinzento e eu havia acordado muito mal. Fui para uma reunião de uma outra irmandade e logo que cheguei, mal havia sentado, uma companheira começou a dar o seu depoimento, e fiquei muito mal! Parecia que ela falava dentro da minha alma. Ela reproduziu em apenas dez minutos todos os meus treze anos de relacionamento. Ela tinha as mesmas características da minha noiva e o seu ex-marido as mesmas características doentias enraizadas na minha pessoa. Ela me mostrou bem a loucura dos resultados. Sua última frase: “Se eu não o deixasse, nem eu e nem ele nos recuperaríamos. Por mais que eu o amasse, tive que deixá-lo!”
Aquela era a voz de Deus, era a resposta as minhas orações. Cabia a mim aceitar o que eu não podia mais modificar, ter a coragem para agir e a sabedoria para saber o momento exato. Três dias depois senti o momento exato, entreguei-me e a ela também, aos cuidados de Deus. Pedi para que Ele fizesse o que fosse melhor para nós dois, que nos protegesse, que nos orientasse e que nos desse forças para superar aquele momento. Ela teve uma crise nervosa muito forte; fiquei preocupado com ela, mas sentia no meu interior que seria melhor ela chorar ali e naquele momento, para não ter que chorar o resto da vida. Eu sabia que eu era impotente para poder controlar as emoções dela e que eu teria que deixar Deus agir. Foi o momento mais difícil de toda a minha vida: ver uma pessoa maravilhosa escapar de mim, devido a minha doença. Não vou mais esquecer aquele momento.
Apesar de toda a dor eu sentia que estava fazendo o melhor para nós dois, uma certeza que vinha lá do fundo, trazendo uma esperança recuperação.
Hoje, passados três meses, tenho visto os frutos desta ação. Vejo o quanto que ela está crescendo, colocando coisas que eu nunca imaginava que ela pudesse colocar, coisas que chegaram até a me machucar e que me fizeram vê-la como uma mulher e não como a minha garotinha. Tenho visto e sentido que estou mais maduro, mais aberto e tendo sentimentos que antes eu não tinha, inclusive, por ela. Tenho a vontade de vê-la bem, crescendo, se realizando e se libertando de mim. Sinto o mesmo ao meu respeito. Nossas vidas foram entregues a Deus. Cabe a Ele nos mostrar a Sua vontade e cabe a nós o livre arbítrio de fazer essa vontade acontecer. Tenho a certeza de que estamos no caminho certo. Tenho certeza de que o que hoje estou sentindo é uma manifestação de amor.
No momento estou sentindo muita dor, pois é como se houvesse perdido alguém, como se alguém tivesse falecido. É uma dor muito forte no peito, parece que ele vai estourar. Sei que essa dor é necessária e que ela é o ingrediente básico do meu crescimento, do meu amor pelas pessoas, do meu aprendizado de respeito pelas pessoas e seus sentimentos. Hoje, por experiência, tenho a certeza de que o amor é algo que liberta e que toda libertação é precedida de muita dependência carregada de muita dor.
Estamos no caminho certo. Deixo o meu futuro aos cuidados do meu Deus, o meu passado sempre como uma lembrança construtiva, e o meu presente, junto aos grandes amigos que tenho encontrado dentro desta Irmandade do DASA. Jamais esquecerei o meu passado e o que vocês tem feito por mim. À todos o meu muito obrigado, do mais fundo do meu coração. Tenham certeza de que hoje eu sinto o que estou compartilhando com vocês!
Infinitas 24 horas de paz, serenidade, sobriedade, crescimento mental, espiritual e emocional.
Um companheiro agradecido